quarta-feira, 28 de julho de 2010

Múltiplo amor


Li em algum lugar que somos capazes de amar várias pessoas ao mesmo tempo. Disso, creio eu, todos sabem. Mas amor avassalador, desses que te arrancam suspiros, pensamentos, sorrisos ou sonhos, todos pensam que somos capazes de ter apenas um.
A princípio achei meio grotesca a ideia, mas depois me identifiquei com a leitura, que foi modificando meus pensamentos acerca disso. Ali dizia que podemos amar várias pessoas, mas a sociedade em que nos encontramos, monogâmica, força-nos a escolher apenas um: renunciamos vários amores para dedicarmo-nos a um que é, por algum motivo, mais especial.
Aqui não cabe dizer a outrem quando se termina um relacionamento:"eu não te amo mais". Seria mais coerente dizer: "eu não quero mais nutrir esse amor por ti".
E que essa nutrição aconteça em doses diárias, quase que homeopáticas, fazendo que todos os sais, substâncias proteicas, carboidráticas, doces e acres - para satisfazer a todos os sentidos da língua - sejam sintetizados para a eternização do hoje.
É para sempre? Se perdura hoje, é para sempre. Amanhã é outro sempre. O hoje ainda acontece.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Todas as cartas de amor são Ridículas


Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)


Álvaro de Campos